Calejar a canela realmente funciona?
![](https://cienciadoringue.com.br/wp-content/uploads/2023/07/calejar-a-canela-faz-mal-1024x576.png)
Calejar a canela faz mal ou essa prática realmente funciona? Essa é uma questão que frequentemente intriga praticantes de artes marciais e outras modalidades de combate.
Muitos atletas buscam fortalecer suas canelas para enfrentar os impactos das lutas e chutes, mas será que isso é seguro?
Neste artigo, vamos desvendar se o calejamento é realmente uma estratégia eficiente ou uma prática perigosa. Leia até o final para entender.
Para que serve o calejamento na canela?
Há uma crença comum de que o calejamento é essencial para os lutadores de artes marciais, principalmente aqueles que praticam estilos de combate que envolvem chutes de canela, como Muay Thai e Kickboxing.
A ideia é que, ao calejar a canela, o lutador terá uma camada extra de proteção, permitindo que ele possa desferir chutes mais poderosos sem sentir tanta dor ou desconforto. Além disso, acredita-se que por isso o chute também ficará mais forte.
O mito do calejamento
Para entendermos porque alguns “especialistas” recomendam a prática do calejamento nas artes marciais, precisamos entender a crença por trás dessa prática. O argumento frequentemente utilizado para justificar a eficácia do calejamento é a analogia com o fortalecimento muscular.
Por exemplo, para obter ganho de hipertrofia muscular, é necessário causar microlesões nas células musculares, resultando em músculos mais fortes.
Essa mesma lógica é aplicada ao calejamento das canelas, acreditando que ao causar microlesões no osso, ele se tornará mais resistente.
No entanto, surge a questão: será que essa linha de pensamento é realmente correta?
O que realmente acontece com o osso no processo de calejamento?
O osso é uma estrutura viva e dinâmica que passa por um processo contínuo de remodelação e adaptação às cargas exercidas sobre ele. No caso específico do calejamento, é importante entender como o osso reage a esse tipo de estímulo.
Quando ocorre uma fratura óssea, o osso entra em um processo de consolidação óssea, que é dividido em quatro fases distintas:
- Hematoma: Nesta fase inicial, ocorre a formação de um coágulo sanguíneo na área afetada. Esse hematoma atua como uma espécie de ponte entre os fragmentos do osso fraturado.
- Calo mole: A segunda fase é caracterizada pela formação de um calo ósseo de consistência mais mole ao redor da fratura. Esse calo é composto por células ósseas em processo de regeneração e é responsável por estabilizar a área fraturada.
- Calo duro: Na terceira fase, o calo ósseo se torna mais denso e rígido à medida que a regeneração óssea continua. Esse calo duro começa a restaurar a resistência do osso fraturado.
- Remodelação óssea: A última fase é a remodelação óssea, na qual o osso é continuamente reorganizado para recuperar sua forma e estrutura original. Durante essa fase, o osso reajusta sua densidade de acordo com as demandas mecânicas impostas pelo uso diário.
![](https://cienciadoringue.com.br/wp-content/uploads/2023/07/consolidacao-ossea-edited.png)
Mas como isso se relaciona com o calejamento das canelas ou outras áreas do corpo frequentemente sujeitas a impactos e lesões repetitivas?
É importante destacar que o calejamento não é um processo natural de consolidação óssea causado por fraturas. Na verdade, essa prática de bater ou golpear as canelas com cabo de vassoura ou outros instrumentos com o objetivo de criar calos ósseos pode ser prejudicial e resultar em lesões, sem oferecer os benefícios pretendidos.
Portanto, é essencial entender que o calejamento não se baseia no mesmo princípio do fortalecimento muscular por meio de microlesões. Na verdade, ao realizar o calejamento você pode deixar seus ossos mais suscetíveis a lesões.
Existe uma maneira mais segura e inteligente de fortalecer os ossos?
A boa notícia é que existe sim uma maneira mais segura e inteligente de fortalecer os ossos. Para isso, você precisa entender algo que temos nos osso chamado de Densidade Mineral óssea (DMO)
A DMO é um indicador da resistência e da força dos ossos, sendo crucial para evitar fraturas e lesões.
Ao longo da vida, a densidade mineral óssea atinge seu pico por volta dos 30 anos, o que significa que esse é o momento em que os ossos são mais fortes e resistentes. A partir dos 30 anos, a DMO tende a diminuir gradualmente, o que pode levar ao aumento do risco de osteoporose e fraturas em idades mais avançadas.
Você já ouviu ou conhece algum idoso que fraturou o osso por levar uma vida sedentária?
Aqui está um grande segredo: o exercício físico é comprovadamente uma das técnicas mais eficazes de aumentar a DMO, tornando seu osso mais forte e saudável.
Abaixo, vamos falar sobre quais são os melhores exercícios para fortalecer os ossos.
Quais são os melhores exercícios para fortalecer os ossos?
![](https://cienciadoringue.com.br/wp-content/uploads/2022/12/musculacao-para-artes-marciais-1024x683.jpg)
Os melhores exercícios para fortalecer os ossos são aqueles que envolvem atividades de impacto e carga de peso.
Os exercícios de impacto como saltos, estimulam as células ósseas a se regenerarem e aumentam a densidade mineral óssea (DMO).
Além disso, exercícios de resistência, como levantamento de peso, musculação e exercícios funcionais, colocam uma carga adicional nos ossos, promovendo sua adaptação e fortalecimento.
A própria prática de esportes de combate é comprovada cientificamente como meio de aumentar a DMO.
Portanto, para ter ossos mais saudáveis, fortes e resistentes é necessário realizar treino de força. Isso lhe garantirá menos risco de fraturas e uma velhice mais saudável, além de um treino seguro e extremamente eficiente.
Conclusão
O calejamento para a canela pode ter impactos na saúde óssea dos lutadores, principalmente relacionados ao risco de calo ósseo. Por isso, é fundamental que os praticantes de artes marciais adotem uma abordagem segura e bem orientada para seus treinamentos, priorizando a saúde óssea e evitando riscos desnecessários. Além disso, é importante que os lutadores estejam cientes da importância da densidade mineral óssea ao longo da vida e tomem medidas preventivas para garantir ossos fortes e resistentes durante toda a sua jornada nas artes marciais.
Referências:
BARBETA, Camila Justino de Oliveira et al. Effects of combat sports on bone mass: Systematic review. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 25, p. 240-244, 2019.
DA ROCHA LEMOS COSTA, T. M. et al. Stress fractures. Archives of Endocrinology and Metabolism, v. 66, n. 5, p. 765-773, 2022.
GUSMÃO, C. V. B. de ., & Belangero, W. D.. (2009). Como a célula óssea reconhece o estímulo mecânico?. Revista Brasileira De Ortopedia, 44(4), 299–305.
STATHAM, Louise; SNELSON, Gavin; ASPRAY, Terry. Osteoporosis and Bone Health. A Comprehensive Guide to Rehabilitation of the Older Patient E-Book: A Comprehensive Guide to Rehabilitation of the Older Patient E-Book, p. 217, 2020.