Corrida para luta funciona? Evidências científicas que vão te fazer rever os seus treinos
Prepare-se para um artigo sobre preparação física para a luta que vai quebrar seus paradigmas!
Você já se perguntou se a corrida para a luta funciona?
Existe uma crença muito comum entre os praticantes de Muay Thai e de outros esportes de combate que “é fundamental fazer treinos de corrida para a luta”. Por causa disso, muitos praticantes e atletas acabam se rendendo a rotinas de corridas de longa distância sem saber ao certo se isso é um fator fundamental na preparação física.
No artigo de hoje, o Ciência do Ringue vai te revelar 4 evidências científicas que mostram que esse pensamento está muito equivocado e porque a corrida para as artes marciais pode não ser a melhor estratégia para quem luta.
Então, calce suas luvas e prepare-se para o nocaute da ciência de hoje!
Evidência #1: As fibras musculares são diferentes
Você sabia que as fibras musculares não são todas iguais?
Os músculos humanos são uma mistura de diferentes tipos de fibras musculares: fibras do tipo 1 (vermelhas) e fibras do tipo 2 (brancas).
Para ficar prático, vamos com um exemplo: você já percebeu a diferença corporal entre os atletas de corrida de velocidade e de longa distância?
Os atletas de velocidade precisam exercer força e velocidade para correr 100m no menor tempo possível, para isso, é necessário que eles possuam uma fibra muscular rápida (tipo 2 – brancas). Essas fibras possuem caráter anaeróbico, são de contração rápida e forte e fadigam rapidamente.
Veja a imagem abaixo que colocamos de uma maneira didática para aprofundarmos esse assunto.
Em contrapartida, os atletas de maratona precisam de uma fibra que resista ao exercício, por isso, eles possuem mais fibras do tipo 1, que são vermelhas devido à mioglobina, de caráter aeróbico, contração lenta, fraca e demoram a fadigar. Assim, elas são essenciais para corredores de longa distância, pois o exercício é de longa duração e esses atletas precisam de muita resistência muscular.
Quando falamos sobre um atleta de luta correr todos os dias, de maneira equivocada estamos treinando para que ele desenvolva fibras de contração lenta. Isto é algo totalmente contraditório, pois quando o atleta sobre no ringue, ele precisa desferir golpes com potência muscular, ou seja, ele precisa de fibras de contração rápida.
Portanto, também quebramos o mito de que o treino de corrida de longa distância serve para dar potência para as pernas. Na verdade, esse tipo de treino é inespecífico e pouco tem a ver com o objetivo da luta.
A dura verdade sobre isso é que você não vai correr a maratona, você vai subir no ringue!
Evidência #2: O treino de luta é intervalado e o de corrida é contínuo
Vamos continuar com o exemplo da corrida. O movimento desse tipo de exercício é contínuo e cíclico (repetição contínua e prolongada do mesmo gesto corporal).
Na luta, isso é completamente diferente. Os esportes de combate são de caráter intervalado, ou seja, há estímulos de alta intensidade e períodos de recuperação. Na prática, observe a luta dentro do ringue, você perceberá que há momentos de golpes de alta intensidade seguidos por ações de baixa intensidade.
Por isso, não faz sentido um atleta de luta correr diariamente, pois a exigência muscular e cardiorrespiratória é totalmente diferente daquela realizada durante uma corrida de longa distância.
Por isso, o treino de corrida para a luta não é a melhor opção quando falamos na especificidade dos esportes de combate como Muay Thai, Boxe, MMA, Jiu-jitsu, entre outros.
Evidência #3: O metabolismo é totalmente diferente
Agora vamos dar uma olhada na diferença entre o metabolismo de cada exercício.
A corrida de longa distância é considerada uma atividade aeróbica que produz ATP (fonte de energia) através de reações de óxido-redução.
No caso de uma corrida de 100m rasos, a produção de ATP (fonte de energia) ocorre através de compostos ricos em energia que é solicitado durante um exercício anaeróbico. Esses compostos são: fosfocreatina e glicogênio.
Isso também vale para os esportes de combate (Muay Thai, Boxe, MMA, entre outros)
Portanto, exercícios aeróbicos (corridas, ciclismo, travessias aquáticas, etc.) possuem sua fonte energética diferente dos exercícios anaeróbicos (esportes de combate, corridas de velocidade, saltos, etc.)
Desse modo, treinar corrida para luta não vai aumentar o seu “gás” como o senso comum pensa, pois a ciência nos mostra o contrário.
Evidência #4: A corrida é um gesto inespecífico
Na hora de fazer uma excelente preparação física para luta é necessário olhar para os gestos específicos da modalidade.
No caso do Muay Thai, podemos considerar os golpes (jab, direto, cruzado, upper, chutes, etc.) como gestos específicos da modalidade.
Agora, pensa comigo: o que tem de específico em uma corrida de 10km todos os dias com relação aos gestos do Muay Thai?
Exatamente, não há nada! A corrida é um gesto inespecífico para os esportes de combate.
Um dos grandes erros dessa prática é passar a metade do tempo de preparação física correndo, produzindo um gesto que não possui significância dentro de um combate.
RESUMINDO TODAS AS DIFERENÇAS
| Muay Thai, Boxe, MMA e outros esportes de combate | Corrida (longa distância) |
|---|---|
| Alta intensidade | Baixa intensidade |
| Intervalado | Contínuo |
| Maior recrutamento de fibras do tipo II | Maior recrutamento de fibras do tipo I |
| Gesto acíclico | Gesto cíclico |
| Utiliza a via glicolítica | Utiliza reações de óxido-redução |
| Metabolismo anaeróbico lático | Metabolismo aeróbico |
Corrida para lutadores funciona? Veja o vídeo
Será que nunca mais se deve correr?
Se você leu o artigo até aqui deve estar pensando: “será que nunca mais devo correr?”
Vamos lá… Quando falamos em preparação física, devemos lembrar que ela é dividida por etapas: período preparatório geral, período preparatório específico; período competitivo e período transitório.
A corrida de longa distância não precisa ser totalmente excluída do treino, podendo ser realizada em etapas que o volume, carga e intensidade de treino diminuem como forma de manutenção do condicionamento através de um exercício geral.
Porém, quando falamos de uma rotina diária de treinos, as evidências científicas mostram que esse é o tipo de treino mais ineficiente para a preparação física das lutas. Por isso, o Ciência do Ringue não recomenda essa prática diária.
Conclusão:
Quando falamos sobre Muay Thai, percebemos que o senso comum sobre preparação física é que a corrida de longa distância deve fazer parte da rotina de treinos. Inclusive, essa prática é amplamente realizada na Tailândia, feita diariamente.
A Missão do Ciência do Ringue é levar uma informação útil, acessível e científica com relação aos esportes de combate, por isso devemos ser muito claros em ressaltar que a Tailândia pode ser referência na preparação técnica e tática do Muay Thai, porém não em preparação física.
As evidências científicas já comprovaram que a corrida não é a melhor opção de preparação física para a luta. Portanto, se faz necessário que outros exercícios que levem em consideração o caráter e aspectos dos esportes de combate (intervalado de alta intensidade seguido de ações de baixa intensidade) sejam incluídos na rotina de treinos.
